Estreia no próximo dia 22, às
20h, a peça Anjo Negro, do Grupo O Poste Soluções Luminosas no Teatro Barreto
Júnior. Com incentivo do Funcultura, direção de Samuel Santos e texto de Nelson
Rodrigues, trata-se da primeira montagem oficial por um grupo de Recife. O
espetáculo aponta para a problemática racial em que, certamente, se articulam os
subsídios para uma teoria social do Brasil, onde se destaca a violência como
fator de base dos fundamentos estruturais do modelo étnico-social brasileiro.
Ela explicita a vivência de amor/ódio num casal inter-racial e a ambiguidade
diante de sua linhagem mestiça. O estilo poético-realista de Nelson Rodrigues
revela, de maneira perturbadora, temas adormecidos no inconsciente. O grupo já
levou, em outras produções, 16 indicações e 08 prêmios, dentre eles, melhor
atriz, melhor atriz coadjuvante, melhor ator, melhor sonoplastia, melhor direção
e melhor cenário. No elenco: Agrinez Melo, Ângelo Fábio, André Caciano, Maria
Luísa Sá, Nana Sodré e Smirna Maciel. O espetáculo fica em cartaz até o dia 29
de abril, aos sábados e domingos. A censura é 18 anos. Valor: R$ 20 (inteira) e
R$10 (meia).
Bem atual, o texto retrata o
preconceito racial sobre o comportamento humano e o preconceito racial sobre sua
própria cor. Em Anjo Negro a questão é tratada de forma aparentemente
paradoxal. O negro Ismael, por odiar a própria cor, repudia tudo o que possa
estar associado a sua etnia - da religião aos hábitos culturais. Sua mãe o
amaldiçoa, pois cegou Elias, o irmão de criação branco. Casado com a branca
Virgínia, contra a vontade da mesma, Ismael se torna cúmplice da mulher, que
assassina os próprios filhos por serem negros. Virgínia sente pelo marido um
misto de repugnância e paixão. Ao nascer Ana Maria, filha branca de Virgínia com
Elias, Ismael cega a menina para que nunca possa ver a sua negritude paterna.
Vendo ali o início de uma relação incestuosa, Virgínia, sempre cumplice do
marido, traça o plano final.
A partir da linha de pesquisa
que o Grupo O Poste Soluções Luminosas vem desenvolvendo, desde o espetáculo
Cordel Amor sem Fim, há um Nelson Rodrigues dentro da ancestralidade, um Anjo
Negro dos Exus, Orixás, Voduns, Eguns, feiticeiras, das alegorias e dos volumes
de seus vestuários. As falas e gestos assumem o tom grotesco, bem marcado e
animalesco. Ora estamos no terreiro, ora dentro, ora fora, ora em local
indefinido, entre o estar dentro e fora.
ENCENAÇÃO – A encenação trabalha com tudo
que o personagem Ismael renega: as suas origens ancestrais. Essa recusa foi a
primeira ideia de tratamento a concepção do espetáculo. O que a encenação faz é
explicitar justamente as negações do personagem. Submerge de seu subconsciente o
que ele evita, expulsa ou tenta não mostrar para a sociedade. As personagens são
violentas entre si, sofrem a violência, vivem-na. Há vinganças recíprocas e
intermináveis. Há ódio dissimulado no amor, amor dissimulado no ódio ou tão
somente um desejo, que gera violência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário