sábado, 15 de março de 2014

ANJO NEGRO DE NELSON RODRIGUES É ENCENADO NO BARRETO JÚNIOR






Estreia no próximo dia 22, às 20h, a peça Anjo Negro, do Grupo O Poste Soluções Luminosas no Teatro Barreto Júnior. Com incentivo do Funcultura, direção de Samuel Santos e texto de Nelson Rodrigues, trata-se da primeira montagem oficial por um grupo de Recife. O espetáculo aponta para a problemática racial em que, certamente, se articulam os subsídios para uma teoria social do Brasil, onde se destaca a violência como fator de base dos fundamentos estruturais do modelo étnico-social brasileiro. Ela explicita a vivência de amor/ódio num casal inter-racial e a ambiguidade diante de sua linhagem mestiça. O estilo poético-realista de Nelson Rodrigues revela, de maneira perturbadora, temas adormecidos no inconsciente. O grupo já levou, em outras  produções, 16 indicações e 08 prêmios, dentre eles, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante, melhor ator, melhor sonoplastia, melhor direção e melhor cenário. No elenco: Agrinez Melo, Ângelo Fábio, André Caciano, Maria Luísa Sá, Nana Sodré e Smirna Maciel. O espetáculo fica em cartaz até o dia 29 de abril, aos sábados e domingos. A censura é 18 anos. Valor: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia).

Bem atual, o texto retrata o preconceito racial sobre o comportamento humano e o preconceito racial sobre sua própria cor. Em Anjo Negro a questão é tratada de forma aparentemente paradoxal. O negro Ismael, por odiar a própria cor, repudia tudo o que possa estar associado a sua etnia - da religião aos hábitos culturais. Sua mãe o amaldiçoa, pois cegou Elias, o irmão de criação branco. Casado com a branca Virgínia, contra a vontade da mesma, Ismael se torna cúmplice da mulher, que assassina os próprios filhos por serem negros. Virgínia sente pelo marido um misto de repugnância e paixão. Ao nascer Ana Maria, filha branca de Virgínia com Elias, Ismael cega a menina para que nunca possa ver a sua negritude paterna. Vendo ali o início de uma relação incestuosa, Virgínia, sempre cumplice do marido, traça o plano final.

A partir da linha de pesquisa que o Grupo O Poste Soluções Luminosas vem desenvolvendo, desde o espetáculo Cordel Amor sem Fim, há um Nelson Rodrigues dentro da ancestralidade, um Anjo Negro dos Exus, Orixás, Voduns, Eguns, feiticeiras, das alegorias e dos volumes de seus vestuários. As falas e gestos assumem o tom grotesco, bem marcado e animalesco. Ora estamos no terreiro, ora dentro, ora fora, ora em local indefinido, entre o estar dentro e fora.

ENCENAÇÃO – A encenação trabalha com tudo que o personagem Ismael renega: as suas origens ancestrais. Essa recusa foi a primeira ideia de tratamento a concepção do espetáculo. O que a encenação faz é explicitar justamente as negações do personagem. Submerge de seu subconsciente o que ele evita, expulsa ou tenta não mostrar para a sociedade. As personagens são violentas entre si, sofrem a violência, vivem-na. Há vinganças recíprocas e intermináveis. Há ódio dissimulado no amor, amor dissimulado no ódio ou tão somente um desejo, que gera violência.


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